FEL, Heráclito, PRINCE2, Agile, Cynefin e Conexões.
Há alguns anos tive meu primeiro contato com o FEL, ou Front-End Loading (_a sigla FEL foi cunhada pela DuPont de Nemours & Co). Trata-se de um método criado pela IPA (Independent Project Analysis)_, empresa fundada no final dos anos 80.
FEL é muito utilizado em megaprojetos, principalmente das indústrias farmacêutica e petroquímica. Comecei a ler um livro chamado “Capital Projects” que explica bem sobre o método, indicação do amigo Daniel Aquere. Após assistir a uma palestra dele, voltei a me interessar sobre o FEL e fiquei com uma “pulga atrás da orelha”, pois enxerguei algo no método que antes não havia me ocorrido.
Fazendo um parêntese, é impressionante como não existe “já li esse livro” ou “já vi esse filme antes”. De fato, como já disse Heráclito, “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio… pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!”.
Isso me fez pensar que quando ouço alguém falar sobre algo que “já sei”, ou sou convidado para assistir a uma palestra “que já vi antes”, e recuso ou fico distraído no celular, estou perdendo uma oportunidade inédita e, naturalmente, ignorando novas informações.
As novas informações não surgem simplesmente de ouvir novamente alguma coisa, isso também ajuda, mas são as conexões que ampliam nossa capacidade de criar novos entendimentos sobre as coisas.
O desafio de se conectar é enorme, porque quando já pensamos que sabemos algo, parece que fica ainda mais aguçado nosso hábito de ouvir pra avaliar, pra responder ou questionar, seja pra reafirmarmos para nós mesmos (ou pros outros) que já sabemos algo, seja para reforçarmos nossa presença ou por qualquer outro motivo.
Conectar-se genuinamente com as pessoas é difícil, precisamos desaprender a ouvir para responder e reaprender a ouvir para aprender e, quando achamos que sabemos alguma coisa fica ainda mais difícil recebermos o que o outro está fazendo sem tanta presunção.
Conectar-se não significa, também, aceitar tudo que lhe dizem sem comparar com o que você sabe ou pensa que sabe. O que fazer então? Uma dica: pergunte para si mesmo, quando achar que já sabe algo, “o que posso aprender ouvindo isso novamente? Quais as dúvidas que eu tenho sobre isso? Será que tem uma relação entre estes assuntos e outras coisas que já ouvi sobre o tema?”.
Faça-se estas questões antes de começar a escutar o que estão te dizendo e, ao começar a interação, dedique-se a escutar mesmo o que está sendo dito. Isso não é fácil e, num primeiro momento, ficamos entediados e pensando “eu já conheço isso!”, mas, com um pouco de persistência, rapidamente percebemos quanta informação diferente há dentro de algo que “já conhecemos”.
Ouvir o que outra pessoa está falando sobre algo que você pensa que sabe pode ser uma ótima oportunidade de encontrar nesta pessoa um outro olhar que possa te ajudar a responder as dúvidas, desafios, críticas ou questões que você tem sobre o assunto!
Buscar no outro algo que te potencialize é uma das principais contribuições da conexão. É daí que vem a ideia de sinergia, de que é possível fazer muito mais do que a soma dos esforços individuais das pessoas conectadas, se a conexão for verdadeira.
Conexões verdadeiras são feitas de entrega autêntica entre as partes que se conectaram em relação a um ou mais assuntos ou propósitos. A “instância” criada entre duas pessoas durante uma conexão verdadeira é como uma terceira pessoa, só que não é de carne e osso, tampouco viva. Ela é temporária: nasce, vive por alguns momentos (enquanto a conexão está ativa) e depois é destruída.
Numa única conversa podemos criar várias “pessoas”. E, quanto mais “pessoas” criamos numa conexão, maior a conexão entre todas as pessoas (as “de carne e osso” e as temporárias). Penso que essas conexões produzam algo único, maior do que as pessoas “de verdade” conseguiriam produzir. A questão é: como materializar esse benefício obtido por meio das conexões?
Bem, vou fechar o parêntese aqui e voltar para o FEL.
O fato é que percebi dessa vez uma imensa convergência entre FEL, PRINCE2 e frameworks ágeis. O conceito de portões, estágios e timeboxes é equivalente em muitos aspectos, sobretudo quando o problema pode ser classificado no quadrante complexo (Cynefin).
Não tenho a pretensão de detalhar o FEL aqui, mas, fazendo uma rápida analogia, o primeiro portão, ou FEL1, tem como objetivo a validação da melhor oportunidade de negócio e, para essa oportunidade, apresentar um EVTE (Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica). Esse portão tem uma afinidade enorme com o conceito de “opções de negócio”, apresentado no business case, instrumento principal do PRINCE2. As “opções de negócio” são descritas no business case pelo mesmo motivo: para que uma delas seja detalhada e seu estudo de viabilidade apresentado. Feito isso, ao final, os executivos poderão tomar a decisão de prosseguir ou não com o projeto.
Mas e o Ágil? Ágil é orientado a valor, assim sendo, o backlog, criado logo no começo, após a definição da visão, é ordenado conforme os critérios definidos pelo PO, que certamente terá como base o ROI do projeto. Aí está a análise de viabilidade novamente.
Os outros portões do FEL trabalham mais fortemente no refinamento do estudo de viabilidade, para diminuir incertezas e margens de erro com relação às estimativa. Poderia, sem risco de exagerar na comparação, dizer que FEL2 e FEL3 são muito semelhantes ao refinamento do business case, que ocorre entre os processos Starting Up a Project e Initiating a Project do PRINCE2. Caso o projeto ainda se mostre viável, ele parte para a execução.
O momento da execução do FEL foi onde percebi uma oportunidade muito interessante de “plugar” um método robusto, como, por exemplo, o PRINCE2 ou PRINCE2 Agile, dependendo do tipo de “problema” que pretendemos resolver. Isso ocorre na camada de entrega, ou seja, nos times que estão construindo o produto do projeto.
Aqui seria um bom momento para perguntar: “Nosso problema é simples, complicado ou complexo?”. Os problemas “caóticos” já ficaram lá atrás, barrados nos portões de avaliação de viabilidade.
Novamente, recorrer ao Cynefin pode ajudar a decidir qual “ferramenta” utilizar para resolver o problema que temos. Caso tenhamos à nossa frente algo simples ou complicado, uma boa opção poderia ser PRINCE2, talvez enriquecido com processos, ferramentas e técnicas do PMBOK para robustecer determinado cenário ou contexto.
O amigo Vitor Massari fez um vídeo muito legal sobre o “Cynefin para definir a abordagem de gestão de projetos”.
Se temos um problema complexo, no qual mudanças ocorrerão no meio do caminho e devem ser aproveitadas ao máximo para que novos benefícios possam emergir e novas soluções possam aparecer, é uma boa oportunidade de “plugar” o PRINCE2 Agile ou SCRUM (vários outros métodos e frameworks também podem ser utilizados).
Outro ponto interessante é que essa avaliação pode ser feita para o projeto todo ou para pacotes de trabalho específicos. Num mesmo projeto, por exemplo, considerado “complicado” (se analisado soba a óptica do Cynefin) poderá haver pacotes de trabalho simples, que serão desenvolvidos numa abordagem “Old School” e outros pacotes de trabalho complexos, que serão desenvolvidos numa abordagem ágil (pela mesma equipe, ou por outra). Essa estrutura flexível permite utilizar as abordagens cascata e ágil, aproveitando o melhor de cada uma, nos momentos ideais.
A execução, então, organizadas em timeboxes, ou em estágios, traz à tona a avaliação constante sobre a viabilidade do desenvolvimento do produto, tendo como base o estudo realizado lá no começo, nos portões iniciais. Mas não apenas isso, pois, se estivermos num ambiente “friendly” e adaptável a mudanças, novas oportunidades podem aparecer e, em vez de “seguir o plano”, passarmos a “perseguir o benefício”, maximizando o valor da opção de negócio que selecionamos. Isso nos tira da discussão sedutora sobre escopo e percentual de conclusão de atividades, que trata o projeto sob uma perspectiva pessoal e qualitativa, e nos leva para um ambiente muito mais sóbrio, no qual o projeto passa a ser visto como uma opção de investimento e, como tal, pode deixar de ser conveniente (ponto em que é recomendado o desinvestimento) ou se tornar ainda mais interessante para a organização, ganhando prioridade sobre as demais.
Essa foi a reflexão ao assistir ao filme do FEL pela segunda vez, ou primeira, já que tanto o rio quanto o homem já não eram mais os mesmos.
Há alguns anos tive meu primeiro contato com o FEL, ou Front-End Loading (_a sigla FEL foi cunhada pela DuPont de Nemours & Co). Trata-se de um método criado pela IPA (Independent Project Analysis)_, empresa fundada no final dos anos 80.
FEL é muito utilizado em megaprojetos, principalmente das indústrias farmacêutica e petroquímica. Comecei a ler um livro chamado “Capital Projects” que explica bem sobre o método, indicação do amigo Daniel Aquere. Após assistir a uma palestra dele, voltei a me interessar sobre o FEL e fiquei com uma “pulga atrás da orelha”, pois enxerguei algo no método que antes não havia me ocorrido.
Fazendo um parêntese, é impressionante como não existe “já li esse livro” ou “já vi esse filme antes”. De fato, como já disse Heráclito, “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio… pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!”.
Isso me fez pensar que quando ouço alguém falar sobre algo que “já sei”, ou sou convidado para assistir a uma palestra “que já vi antes”, e recuso ou fico distraído no celular, estou perdendo uma oportunidade inédita e, naturalmente, ignorando novas informações.
As novas informações não surgem simplesmente de ouvir novamente alguma coisa, isso também ajuda, mas são as conexões que ampliam nossa capacidade de criar novos entendimentos sobre as coisas.
O desafio de se conectar é enorme, porque quando já pensamos que sabemos algo, parece que fica ainda mais aguçado nosso hábito de ouvir pra avaliar, pra responder ou questionar, seja pra reafirmarmos para nós mesmos (ou pros outros) que já sabemos algo, seja para reforçarmos nossa presença ou por qualquer outro motivo.
Conectar-se genuinamente com as pessoas é difícil, precisamos desaprender a ouvir para responder e reaprender a ouvir para aprender e, quando achamos que sabemos alguma coisa fica ainda mais difícil recebermos o que o outro está fazendo sem tanta presunção.
Conectar-se não significa, também, aceitar tudo que lhe dizem sem comparar com o que você sabe ou pensa que sabe. O que fazer então? Uma dica: pergunte para si mesmo, quando achar que já sabe algo, “o que posso aprender ouvindo isso novamente? Quais as dúvidas que eu tenho sobre isso? Será que tem uma relação entre estes assuntos e outras coisas que já ouvi sobre o tema?”.
Faça-se estas questões antes de começar a escutar o que estão te dizendo e, ao começar a interação, dedique-se a escutar mesmo o que está sendo dito. Isso não é fácil e, num primeiro momento, ficamos entediados e pensando “eu já conheço isso!”, mas, com um pouco de persistência, rapidamente percebemos quanta informação diferente há dentro de algo que “já conhecemos”.
Ouvir o que outra pessoa está falando sobre algo que você pensa que sabe pode ser uma ótima oportunidade de encontrar nesta pessoa um outro olhar que possa te ajudar a responder as dúvidas, desafios, críticas ou questões que você tem sobre o assunto!
Buscar no outro algo que te potencialize é uma das principais contribuições da conexão. É daí que vem a ideia de sinergia, de que é possível fazer muito mais do que a soma dos esforços individuais das pessoas conectadas, se a conexão for verdadeira.
Conexões verdadeiras são feitas de entrega autêntica entre as partes que se conectaram em relação a um ou mais assuntos ou propósitos. A “instância” criada entre duas pessoas durante uma conexão verdadeira é como uma terceira pessoa, só que não é de carne e osso, tampouco viva. Ela é temporária: nasce, vive por alguns momentos (enquanto a conexão está ativa) e depois é destruída.
Numa única conversa podemos criar várias “pessoas”. E, quanto mais “pessoas” criamos numa conexão, maior a conexão entre todas as pessoas (as “de carne e osso” e as temporárias). Penso que essas conexões produzam algo único, maior do que as pessoas “de verdade” conseguiriam produzir. A questão é: como materializar esse benefício obtido por meio das conexões?
Bem, vou fechar o parêntese aqui e voltar para o FEL.
O fato é que percebi dessa vez uma imensa convergência entre FEL, PRINCE2 e frameworks ágeis. O conceito de portões, estágios e timeboxes é equivalente em muitos aspectos, sobretudo quando o problema pode ser classificado no quadrante complexo (Cynefin).
Não tenho a pretensão de detalhar o FEL aqui, mas, fazendo uma rápida analogia, o primeiro portão, ou FEL1, tem como objetivo a validação da melhor oportunidade de negócio e, para essa oportunidade, apresentar um EVTE (Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica). Esse portão tem uma afinidade enorme com o conceito de “opções de negócio”, apresentado no business case, instrumento principal do PRINCE2. As “opções de negócio” são descritas no business case pelo mesmo motivo: para que uma delas seja detalhada e seu estudo de viabilidade apresentado. Feito isso, ao final, os executivos poderão tomar a decisão de prosseguir ou não com o projeto.
Mas e o Ágil? Ágil é orientado a valor, assim sendo, o backlog, criado logo no começo, após a definição da visão, é ordenado conforme os critérios definidos pelo PO, que certamente terá como base o ROI do projeto. Aí está a análise de viabilidade novamente.
Os outros portões do FEL trabalham mais fortemente no refinamento do estudo de viabilidade, para diminuir incertezas e margens de erro com relação às estimativa. Poderia, sem risco de exagerar na comparação, dizer que FEL2 e FEL3 são muito semelhantes ao refinamento do business case, que ocorre entre os processos Starting Up a Project e Initiating a Project do PRINCE2. Caso o projeto ainda se mostre viável, ele parte para a execução.
O momento da execução do FEL foi onde percebi uma oportunidade muito interessante de “plugar” um método robusto, como, por exemplo, o PRINCE2 ou PRINCE2 Agile, dependendo do tipo de “problema” que pretendemos resolver. Isso ocorre na camada de entrega, ou seja, nos times que estão construindo o produto do projeto.
Aqui seria um bom momento para perguntar: “Nosso problema é simples, complicado ou complexo?”. Os problemas “caóticos” já ficaram lá atrás, barrados nos portões de avaliação de viabilidade.
Novamente, recorrer ao Cynefin pode ajudar a decidir qual “ferramenta” utilizar para resolver o problema que temos. Caso tenhamos à nossa frente algo simples ou complicado, uma boa opção poderia ser PRINCE2, talvez enriquecido com processos, ferramentas e técnicas do PMBOK para robustecer determinado cenário ou contexto.
Se temos um problema complexo, no qual mudanças ocorrerão no meio do caminho e devem ser aproveitadas ao máximo para que novos benefícios possam emergir e novas soluções possam aparecer, é uma boa oportunidade de “plugar” o PRINCE2 Agile ou SCRUM (vários outros métodos e frameworks também podem ser utilizados).
Outro ponto interessante é que essa avaliação pode ser feita para o projeto todo ou para pacotes de trabalho específicos. Num mesmo projeto, por exemplo, considerado “complicado” (se analisado soba a óptica do Cynefin) poderá haver pacotes de trabalho simples, que serão desenvolvidos numa abordagem “Old School” e outros pacotes de trabalho complexos, que serão desenvolvidos numa abordagem ágil (pela mesma equipe, ou por outra). Essa estrutura flexível permite utilizar as abordagens cascata e ágil, aproveitando o melhor de cada uma, nos momentos ideais.
A execução, então, organizadas em timeboxes, ou em estágios, traz à tona a avaliação constante sobre a viabilidade do desenvolvimento do produto, tendo como base o estudo realizado lá no começo, nos portões iniciais. Mas não apenas isso, pois, se estivermos num ambiente “friendly” e adaptável a mudanças, novas oportunidades podem aparecer e, em vez de “seguir o plano”, passarmos a “perseguir o benefício”, maximizando o valor da opção de negócio que selecionamos. Isso nos tira da discussão sedutora sobre escopo e percentual de conclusão de atividades, que trata o projeto sob uma perspectiva pessoal e qualitativa, e nos leva para um ambiente muito mais sóbrio, no qual o projeto passa a ser visto como uma opção de investimento e, como tal, pode deixar de ser conveniente (ponto em que é recomendado o desinvestimento) ou se tornar ainda mais interessante para a organização, ganhando prioridade sobre as demais.
Essa foi a reflexão ao assistir ao filme do FEL pela segunda vez, ou primeira, já que tanto o rio quanto o homem já não eram mais os mesmos.