[15MIN INSIGHTS] EP 004 • Significantes Vazios

Diga-me uma coisa: como está sua qualidade de vida? E a segurança na região onde você mora, como está? E sua equipe na organização, está empoderada? Perceba só do que vamos falar hoje. Hoje, vamos discutir sobre significantes vazios. Então, para começar: bom dia, boa tarde, boa noite. Que bom estar aqui com você para podermos ter nosso bate-papo de até 15 minutos de reflexão. Hoje, trago um tema que, para mim, é uma pimenta. Na minha opinião, esse tema deveria estar na pauta de muitos debates: significantes vazios.

Primeiro, deixe-me trazer o conceito do que isso significa, né? O significante vazio vem de uma teoria chamada teoria do discurso e é muito associado a um teórico político chamado Ernesto Laclau. O significante vazio é também o terror da academia, né? Quem trabalha, por exemplo, corrigindo textos, principalmente dissertações, e bancas de mestrado, doutorado, sofrem demais com o tal do significante vazio. O que é o significante vazio? Ele se refere a um termo ou um conceito que é intencionalmente deixado em aberto e indefinido, de modo que as pessoas possam preenchê-lo com diferentes significados por diferentes grupos ou indivíduos, de acordo com a cultura daquele grupo, de acordo com a visão de mundo daquele grupo, os valores, as crenças e assim por diante. Essa abertura permite que esse termo tenha uma flexibilidade tão grande e que consiga penetrar em diversas culturas.

Então, pense no significante vazio como sendo uma palavra contêiner, uma caixa, e essa caixa é especial porque você pode colocar dentro dela quase qualquer coisa que você queira. Pense em palavras como liberdade, justiça, progresso, segurança, como eu falei para você, qualidade de vida ou bem-estar. Agora, pense nisso não como palavras absolutas, mas como caixas, é uma caixa escrito justiça, outra caixa escrito bem-estar. O que é interessante sobre isso é que diferentes pessoas podem preencher essas caixas com diferentes conteúdos, ou seja, diferentes pessoas podem ter ideias muito diferentes sobre o que essas palavras realmente significam. Por exemplo, o que eu considero liberdade pode ser bem diferente daquilo que você considera liberdade, e nós dois chamamos isso de liberdade.

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Ernesto Laclau, o cara que estudou bastante sobre como as pessoas usam palavras e ideias para se comunicar e para se organizar, chamou essas palavras de significantes vazios e disse que, como são recipientes vazios porque não têm um significado fixo ou específico, são como água, né? Em vez disso, elas podem ser preenchidas com diferentes significados em diferentes casos por pessoas diferentes. Isso traz utilidades e problemas. Por exemplo, pelo fato de serem adaptáveis, elas são muito poderosas, porque conseguem unir as pessoas. Por exemplo, quando usamos a palavra justiça, muitas pessoas concordam ou podem concordar que justiça é importante, mesmo que nem todas elas tenham a mesma ideia sobre justiça. Eu posso entender justiça como uma coisa, e você como outra, e nós concordamos que justiça é importante. Não precisamos ter a mesma definição para encontrarmos um consenso ou concordarmos que isso é importante. Isso faz com que muitas pessoas que, de outra forma, teriam opiniões diferentes sobre esse conceito, possam se unir em prol de uma causa comum.

E quais são os problemas que isso cria, né? O fato de essas caixas serem tão abertas, elas podem significar coisas tão diferentes, tão diferentes, tão diferentes que podem gerar, com o tempo, confusão e mal-entendidos. E uma empresa, por exemplo, se todos concordam que querem inovar, dificilmente você vai fazer uma palestra numa empresa e perguntar quem é que discorda de inovar. Quem é que acha que inovação não é legal? Dificilmente se haverá alguém levantar a mão e falar, “eu discordo”. Se você perguntar quem concorda que nós temos que ser mais ágeis na gestão de projetos, dificilmente alguém vai levantar a mão e dizer que discorda. Se você perguntar quem aqui discorda de diversidade, inclusão, bem-estar, respeito, que muitas vezes são palavras que aparecem, por exemplo, na nossa lista de valores organizacionais, vai vendo o problema que usar significantes vazios numa lista de valores organizacionais pode criar. Dificilmente você vai encontrar pessoas que se oponham a essas palavras, essas importantes, mas, na hora de decidir o que fazer amanhã, na hora de pensar na nossa próxima ação, essas pessoas não necessariamente irão para o mesmo canto. Algumas pessoas podem pensar que inovar significa criar novos produtos, e já outras podem pensar que inovar significa melhorar os processos existentes e ganhar eficiência. Já outras podem pensar que inovar é simplesmente ter ideias, e todas, há 10 minutos atrás ou há 5 minutos atrás, concordaram que inovar é importante, só que no dia seguinte, na hora de saber o que fazer, as pessoas não sabem.

Palavras como agilidade, como inovação, na minha visão, um dos grandes problemas, na minha visão, é o fato de serem significantes vazios e que permitem que as pessoas muitas vezes criem ambiguidade e confusão sobre o que temos que fazer. Ou a paralisia por análise, porque a necessidade constante de ficar negociando e renegociando significados de termos centrais leva à paralisia por análise. Porque nós temos que ficar recorrentemente em reuniões para discutir o que fazer em relação à inovação e não fazemos nada. Quem aqui nunca participou de uma série infindável de reuniões sobre um determinado tema que ninguém sabia o que fazer, provavelmente porque era um significante vazio e cada reunião tinha que repactuar aquele termo. Isso cria também resistência à mudança, porque, embora as pessoas, embora, num primeiro momento, significantes vazios possam facilitar a adaptação a novas circunstâncias, eles também podem ser cooptados por grupos que desejam manter o status quo, usando essa ambiguidade para resistir à mudança significativa ou inovações. Além de criar mais dois outros problemas: desalinhamento estratégico, é claro, porque haverá diferentes interpretações de conceitos chave e que levarão a esforços descoordenados ou, em algumas vezes, contraditórios. Se eu acho que agilidade é fazer mais rápido, e você acha que agilidade é experimentação, a experimentação, em algum momento, demora mais para ser feita. Fazer rápido não necessariamente vai trazer o conhecimento necessário, e os dois concordamos que a agilidade é importante, mas estamos em ações ambíguas, contraditórias, o que vai minar a coesão estratégica e o foco organizacional. Por fim, um desengajamento em massa: a falta de clareza do que fazer amanhã e o sentimento de que os termos são usados de forma manipulativa e sem substância, com o tempo, podem levar ao cinismo e ao desengajamento entre os membros da organização. Por isso é tão importante, em algum momento, nós negociarmos significados previamente ou, quando falamos, por exemplo, de pensar numa lista de valores, quais são os valores da sua organização? Aí você vai lá, encontra respeito, diversidade, inclusão, ética, agilidade, inovação. Seis significantes vazios. Será que as pessoas sabem exatamente o que é esperado delas amanhã? Ou nós podemos ter uma pessoa que diga que olha, eu, eu, eu não desrespeito ninguém, só que está fundamentalmente desrespeitando, só que, na opinião dela, não, porque ela entende por respeito algo diferente de você, assim como diversidade, assim como inclusão, assim como agilidade e inovação. O quanto os nossos valores podem ser um grupo de significantes vazios que não digam para as pessoas, de fato, qual é o direcionamento que nós esperamos delas. Nesse caso, melhor do que uma lista de palavras soltas, seria um verbo no infinitivo que diga exatamente o que nós queremos que você faça, com uma palavra, uma frase, uma expressão clara e inequívoca de qual é o comportamento que nós esperamos das pessoas. Olhe para dentro da sua organização, olhe para dentro do seu dia, olhe para dentro das coisas que você defende. Quantas delas podem estar calcadas em significantes vazios? Espero que tenha trazido bons insights para você. 

Valeu, pessoal!

 

 


 

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