Menos desperdício – O experimento

Pessoas não especialistas em determinado assunto, selecionadas aleatoriamente, de modo que não se conheçam ou tenham vínculos pessoais, genuinamente engajadas e tomadas por um propósito comum, sob a orientação de um método, são capazes de gerar ideias viáveis, criativas, inovadoras para resolver problemas sociais complexos?

Essa foi a pergunta que norteou o artigo que escrevi em 2018, e a conclusão que cheguei foi: sim, são!

Fiz um experimento que contou com mais de 140 inscritos e teve como objetivo resolver um problema social complexo: desperdício de alimentos. Todo o experimento foi documentado e apresentado para a conclusão do curso. 

Enquanto toneladas de alimentos em condições de consumo são jogadas fora, todos os dias, há pessoas com fome, sofrendo em busca de algo para assegurar mais um dia de luta. Esse é um problema sério, que impacta em dezenas de variáveis. Aqui, a seguir, um trecho do artigo que, embora escrito por mim em 2018, revela-se totalmente adequado aos desafios que enxergo hoje em dia:

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagemNa era da internet, a sociedade se conecta de uma forma nova, nunca anteriormente vista. Continentes, a milhares de quilômetros, tornam-se tão próximos quanto uma casa vizinha, ao alcance de alguns cliques. A sociedade se conecta em rede. Essa conexão e aproximação entre as pessoas traz novas oportunidades para que, por meio da nova organização da sociedade em rede, problemas até hoje não resolvidos possam encontrar uma nova oportunidade de solução. Sobre os grandes problemas políticos do mundo contemporâneo, Pierre Levy, em seu livro Inteligência coletiva, afirma que ninguém possui solução simples e definitiva para resolvê-los. Uma abordagem séria dessas questões exige, provavelmente, a mobilização de uma grande variedade de competências e o tratamento contínuo de enormes fluxos de informação. Considerando a afirmação de Pierre Lévy, as soluções necessárias para endereçar os grandes problemas políticos dar-se-iam por meio da conexão de saberes, de uma grande variedade de competências, de uma rede.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagemUm ponto importante é: uma rede de pessoas, de fato, pode contribuir para a geração de boas ideias? Em seu livro “De onde vêm as boas ideias”, Steven Johnson define uma “boa ideia” como uma rede de células explorando o possível adjacente de conexões que elas podem estabelecer na nossa mente. No mesmo livro, Johnson compara a organização de uma rede neural e de uma rede de pessoas, afirmando que para tornar uma mente mais inovadora, deve-se inseri-la em ambientes que compartilhem daquele mesmo tipo característico de rede; isto é, em redes de ideias ou pessoas que imitem as redes neurais de uma mente que explora os limites do possível adjacente.

 Essa teoria torna-se ainda mais interessante quando observado um dos casos mais emblemáticos de desenvolvimento de uma base de conhecimento de forma colaborativa. A Wikipédia, definida em seu site como um projeto de enciclopédia multilíngue, de licença livre, escrito de maneira colaborativa, é mantida por milhões de usuários, de forma voluntária e colaborativa, traduzida em mais de 270 idiomas e com uma base de mais de 43 milhões de artigos. Com relação à credibilidade e precisão das informações ali armazenadas, uma pesquisa realizada pela revista Nature, Giles (2005) conclui que a Wikipédia aproxima-se da Enciclopédia Britannica em termos da precisão dos artigos de ciência, com um número muito próximo de erros e imprecisões.

Nesse mesmo contexto apresentado por Johnson e Levy, Gianluca Elia, Alessandro Margherita escrevem um artigo intitulado “Can we solve wicked problems? A conceptual framework and a collective intelligence system to support problem analysis and solution design for complex social issues”. Elia e Margherita buscam identificar, com o apoio de um framework, por meio de uma abordagem colaborativa e orientada a processos, destinada a combinar um método estruturado com pensamento criativo e um processo de geração de ideias, a relevância de uma abordagem coletiva, realizada com generalistas (ou não especialistas) para solução desses problemas, chamados de wicked problems.

A definição de wicked problems é apresentada pelos autores como: problemas complexos e multifacetados que não têm solução única e são percebidos por diferentes partes interessadas através de pontos de vista contrastantes, o que vai ao encontro da afirmação apresentada por Pierre Levy sobre os problemas políticos. O artigo conclui considerando o fato de que muitos dos chamados wicked problems, especialmente problemas sociais como as alterações climáticas, pobreza, poluição e segurança, são questões muito complexas, o papel da inteligência coletiva e contribuição de um grande grupo pode ser compreendido como um passo preliminar, posteriormente acompanhado por uma avaliação por especialistas para a decisão final. A falta de consenso é de fato uma questão crítica, que pode facilmente acontecer em um cenário de wicked problems.

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