Um sistema ruim sempre vencerá uma boa pessoa.

Você já se pegou lutando para mudar um hábito, mesmo tendo a melhor das intenções e todo o conhecimento necessário para fazê-lo? Talvez você tenha tentado várias vezes e ainda assim não conseguiu. É frustrante, não é mesmo?

A verdade é que mudar comportamentos não é fácil. No entanto, existem teorias que podem nos ajudar a entender melhor o que está por trás desse desafio. E o melhor: essas teorias podem ser combinadas para criar intervenções eficazes de mudança de comportamento.

Vamos pensar em um exemplo do nosso dia a dia: imagine que você queira comer de forma mais saudável, mas tenha dificuldade em resistir aos petiscos e guloseimas disponíveis em casa. Por mais que você queira mudar, parece que algo te impede de fazer a escolha mais saudável.

É aí que entram as teorias de Kurt Lewin, B.J. Fogg e W. Edwards Deming. Lewin enfatiza a importância de modificar o ambiente para apoiar a mudança.

De acordo com Lewin (1951), “Uma mudança em qualquer parte de um campo implica mudanças em todas as outras partes. É mais fácil mudar a pessoa do que mudar a sua situação, mas, no entanto, a situação é o fator determinante. Se não houver mudanças na situação, não haverá mudanças no comportamento” (p. 240). Essa citação destaca que a situação, ou seja, o ambiente em que o comportamento ocorre, é um fator determinante na mudança de comportamento. Lewin acreditava que, para mudar um comportamento, era necessário mudar o ambiente em que ele ocorre, para reduzir as forças restritivas e aumentar as forças motivadoras para a mudança. O comportamento é uma função da pessoa e do ambiente.

Enquanto isso, Fogg enfatiza a importância de fornecer gatilhos para o comportamento desejado no ambiente relevante do usuário. Segundo Fogg (2009), “Um comportamento é mais provável de ocorrer quando há um gatilho (ou trigger) que o ativa, a capacidade para realizar o comportamento e a motivação para realizá-lo. O gatilho deve ocorrer no momento em que a pessoa está pronta para realizar o comportamento, e a capacidade deve ser suficiente para realizar o comportamento com facilidade” (p. 2). Essa citação destaca a importância dos gatilhos na realização de um comportamento, e Fogg enfatiza que os gatilhos devem ocorrer no momento certo, quando a pessoa está pronta para realizar o comportamento. Ele também destaca a importância da capacidade de realizar o comportamento com facilidade e da motivação para realizá-lo.

Por sua vez, Deming destaca a importância de otimizar todo o sistema em vez de apenas partes dele, incluindo o ambiente físico e social em que as pessoas trabalham. De acordo com Deming (2000), “O trabalho da gestão é otimizar o todo, não otimizar as partes. O grande perigo está na ganância por dinheiro, a ser ganho por uma parte da organização, a custo do resto. A sub-otimização é a pior coisa que pode acontecer a uma empresa. Mesmo uma parte pode ser destruída por ela. Como ele disse, ‘Um sistema ruim sempre vencerá uma boa pessoa.’ Pessoas com boas intenções fazem promessas que logo são esquecidas. A mensagem de Deming não é apenas para CEOs e presidentes. É para todos. Precisamos do melhor sistema. Precisamos de cooperação, não de competição. E precisamos de criatividade.”

Deming destaca que a sub-otimização é um perigo porque pode prejudicar toda a empresa, e até mesmo uma única parte dela. Ele acredita que a otimização do todo é o trabalho da gestão, e que isso requer cooperação, não competição, e criatividade. Isso significa que a mudança não deve ser vista como uma tarefa individual, mas como um esforço colaborativo que envolve todas as partes do sistema.

Ao aplicar essas teorias ao nosso exemplo de alimentação saudável, podemos perceber que mudar um comportamento não depende apenas da força de vontade de uma pessoa. Para mudar um hábito, é preciso levar em consideração o ambiente em que o comportamento ocorre, os gatilhos que desencadeiam o comportamento e o sistema em que a pessoa está inserida. Portanto, para criar mudanças duradouras em nossa vida, precisamos adotar uma abordagem holística que leve em consideração todas essas dimensões. As organizações estão levando em consideração o ambiente, os gatilhos e o sistema em que seus funcionários estão inseridos ao promover mudanças de comportamento?

Em resumo, as teorias de Kurt Lewin, B.J. Fogg e W. Edwards Deming fornecem abordagens diferentes para a mudança de comportamento, mas todas elas destacam a importância de levar em consideração o ambiente em que o comportamento ocorre, os gatilhos que desencadeiam o comportamento e o sistema em que a pessoa está inserida. Ao combinar essas teorias, podemos criar intervenções mais eficazes para mudar comportamentos e criar mudanças positivas em nossas vidas. Mas para isso, é preciso estar disposto a refletir sobre nossas próprias limitações e buscar apoio e motivação ao longo do caminho. E você, o que te impede de mudar? Como você pode usar essas teorias para criar mudanças positivas em sua vida? E em sua organização?

 

Referências

  • Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational behavior and human decision processes, 50(2), 179-211.
  • Bandura, A. (1977). Self-efficacy: toward a unifying theory of behavioral change. Psychological review, 84(2), 191.
  • Deming, W. E. (1982). Out of the crisis. Quality Progress, 15(8), 10-14.
  • Deming, W. E. (2000). Out of the crisis. MIT Press.
  • Dawkins, R. (1976). The selfish gene. Oxford University Press.
  • Duhigg, C. (2012). The power of habit: Why we do what we do in life and business. Random House.
  • Fogg, B. J. (2009). A behavior model for persuasive design. In Proceedings of the 4th International Conference on Persuasive Technology (pp. 1-7).
  • Lewin, K. (1951). Field theory in social science. Harper & Row.
  • Lewin, K. (1952). Group decision and social change. Read Books.
  • Prochaska, J. O., DiClemente, C. C., & Norcross, J. C. (1992). In search of how people change: Applications to addictive behaviors. American psychologist, 47(9), 1102.
  • Senge, P. M. (2006). The fifth discipline: The art and practice of the learning organization. Doubleday.

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